quinta-feira, 7 de julho de 2016

Como surgiu a Cidade de Padre Marcos - Pi



Padre Marcos de Araújo Costa constituiu-se em um dos mais influentes membros das famílias do Centro-Sul piauiense na primeira metade do século XIX, no qual mais que uma influência pontual ou localizada, representou figura de grande prestígio nas redes de poder social e político em que se inseriu, revelando muito da sociedade em que viveu. Entretanto, a historiografia piauiense criou uma memória sobre o Padre de “benemérito educador” que não esgota sua complexidade social e política. 

Esta memória (re)criada, que fabrica a história sobre o Padre, representa uma produção marcada pelo lugar social de seus produtores, no qual criou-se, por meio de biografias e crônicas, uma memória escrita que concentra suas discussões apenas em um Padre educador. Neste sentido, localiza-se em escritos, de 1839, do botânico inglês George Gardner (1975) um ponto de inflexão dos mais significativos, uma vez que este, primeiro de seus biógrafos, minimiza sua atuação como artífice político e como religioso, ressaltando apenas sua importância como educador. 

Refletir acerca de Padre Marcos e sua atuação política e de como a historiografia piauiense construiu sua imagem de “benemérito educador” representam os objetos de analises do presente estudo.

As imagens guardadas pela historiografia piauiense, sobre Padre Marcos, foram produzidas pelos relatos de seus biógrafos e cronistas. São estas imagens vivas, imagens que se alteram, pois, como alerta Halbwachs, “nunca a imagem de um falecido se imobiliza.

À medida em que recua no passado, muda, porque algumas impressões se apagam e outras se sobressaem, se é, segundo condições novas onde ela se encontra quando nos voltamos para ela ”(1990, p. 74). Com este entendimento os biógrafos e cronistas de Padre Marcos. Estes escritos constituem-se de biografias e crônicas caracterizadas pela apologia ao Padre, que, em maioria, são narrativas construídas por pesquisadores sem formação acadêmica em história.

Essa construção da memória em relação ao Padre como educador não atende a uma fórmula ou forma de antemão traçada, uma vez que na prática a “memória não possui uma organização já pronta na qual ela apenas se encaixaria, mas se mobiliza conforme a ocasião. Ela só se instala num encontro fortuito, no outro” (CERTEAU, 2004, p. 162), pois o seu conteúdo, mesmo móvel, é seu, porém a forma é estabelecida por uma circunstância estranha, que é mobilizada por uma alteração, uma ruptura instauradora. Assim, a memória que se construiu sobre o “Padre educador”, aguardou apenas a mediação do momento oportuno para produzir esta ruptura instauradora, e neste gesto equilibrista, o relato não se contenta em dizer um movimento, pois não se adequa ao real, mas exprime uma prática fabricando o real que se acredita ter existido. 

Esse foi só um excerto de uma tese de doutorado feita pelo Dr. Marcelo de Sousa Neto, defendida na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, sobre Padre Marcos. Você pode ler a tese inteira clicando no link abaixo:


Marcelo de Sousa Neto - Doutor em História pela UFPE. Professor de História da Universidade Estadual do Piauí, Campus Clóvis Moura. E-mail: marceloneto@yahoo.com.br 

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